Povos que têm a vida ligada ao rio. Assim são os vazanteiros e barranqueiros que habitam as ilhas e barrancos de rios como São Francisco, Tocantins e Araguaia. Esses povos ribeirinhos observam as cheias que trazem peixes e renovação para a vida. Cultivam o milho, o feijão, o tomate e outros alimentos. Retiram o sustento da pesca, agricultura e criação de animais.

Vazanteiro (Foto: Bento Viana/ISPN)

Eles cultivam os alimentos nas áreas que se formam nas vazantes do rio, convivendo com a beleza das matas, lagoas e campos dos Cerrados. Possuem uma relação de simbiose com seu território e muito conhecimento acerca dos ciclos da natureza.

Bem adaptados às condições de permanentes mudanças provocadas pelas variações das águas do rio, vazanteiros e barranqueiros têm um conhecimento tradicional fruto de mais de quatro séculos de convivência com a natureza. Seguindo as orientações do curso das águas, o povo desenvolve a agricultura de vazante, lameiro e sequeiro. Todo o alimento que produzem vai para a família e o excedente é transportado em embarcações para ser vendido em mercados de cidades vizinhas.

As populações tradicionais nutrem um sentimento de pertencer ao seu lugar. Decididos a enfrentar o poder dos grandes proprietários de terras e os projetos de construção de barragens ao longo do rio, as famílias de vazanteiros reivindicam do governo o direito sobre seus territórios.

A comunidade vazanteira da ilha do Jenipapo, região mineira do alto-médio São Francisco, por exemplo, luta pela revitalização do rio São Francisco e preservação do Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Nos anos de 1950 foram expulsos de suas terras por fazendeiros e continuam resistindo.

A ameaça de perder suas terras também ronda a comunidade da Ilha do Pau Preto, no município de Matias Cardoso, Minas Gerais. Os moradores dessa localidade estão sendo ameaçados de serem expulsos porque suas terras estão na área que deverá se tornar o Parque Estadual Verde Grande. Assim, lutam pela criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável Vazanteira Extrativista, que considere a permanência dos habitantes tradicionais em seus territórios.

Os vazanteiros também denunciam a instalação do Projeto Jaíba, entre os municípios mineiros de Matias Cardoso e Jaíba, considerado o maior projeto público de irrigação em área contínua da América Latina. Esse vasto perímetro irrigado contribui para a degradação do São Francisco por diversos motivos, sendo três os de maior impacto ambiental: o desmatamento da vegetação nativa para dar lugar às lavouras; a utilização de adubos químicos e agrotóxicos nas plantações, que além de contaminar o solo são carreados para o rio nos períodos de chuva, poluindo suas águas; e pelo bombeamento abusivo das águas do rio para irrigação.

Clamando por apoio, os povos vazanteiros promovem encontros e reuniões para discutir a situação de comunidades que tiveram seus direitos negados. Sem desistir, continuam lutando por justiça e reconhecimento.

Fontes: Sites Oitavo EnconASA, Vazanteiros em Movimento, Douglas Mansur e São Francisco Vivo; publicação Saberes Tradicionais e Biodiversidade no Brasil, Antonio Carlos Diegues e Rinaldo Arruda.